A Experiência do Voluntariado Internacional

20 Setembro, 2017

Encontrando-se atualmente a estagiar na My Change e tendo experienciado um Programa Internacional de Voluntariado, entrevistámos o nosso colega Pedro Alves no sentido de explorar as descobertas que fez, as emoções que experimentou, os momentos que o marcaram e as atividades que dinamizou.

 

País: Jaipur, Índia

Duração da ação de voluntariado: 60 dias

 

Como te preparaste para a experiência de voluntariado?

A preparação foi mais a nível burocrático e médico, dados todos os cuidados para os quais somos alertados e, quanto mais informação obtínhamos, mais difícil estava a tornar-se. É necessário filtrar a informação que nos transmitem.

Sabia que era um país em desenvolvimento e um dos mais populosos do mundo, e por mais vídeos que tenha visto, ainda hoje não consigo explicar o que é estar/viver na Índia. Lembro-me que antes de ir, a minha mãe disse-me para levar comigo alguns enlatados, ao que eu respondi  “Na Índia também há supermercados, mãe”, às vezes temos de lhes dar razão… Não havia supermercados. No fundo, tentei não criar demasiadas expetativas para que pudesse ser agradavelmente surpreendido!

 

Como foi o processo de adaptação no país?

Eu penso que, em dois meses, nunca me consegui adaptar verdadeiramente. Os hábitos, a todos os níveis, levam-nos a não estar preparados para enfrentar realidades tão distintas. O calor que se faz sentir, a comida exageradamente picante e vegetariana, a sobrevivência diária, o barulho constante, a autoridade diluída, a diversidade de animais domésticos e não domésticos – elefantes, vacas, macacos, porcos, cães, camelos – que deambulam pela rua, as seis pessoas numa mota, mais dez num tuc-tuc, o trânsito sem regras… Mas estando sob esta situação, temos que nos ajustar para estar à altura do desafio e tentar vivê-lo ao máximo.

 

Que tipo de atividades desenvolveste?

Durante os 60 dias estivemos hospedados numa faculdade, onde o principal objetivo do Programa era divulgar os “17 Sustainable Development Goals” promovidos pelas Nações Unidas até 2030. A finalidade era produzir sessões/aulas para estudantes universitários, isto é, criar o approach e toda a dinâmica juntos dos jovens de forma a que fosse estabelecido um paralelismo entre países desenvolvidos e em desenvolvimento, de forma a sensibilizá-los para comportamentos e atitudes que possam garantir um desenvolvimento sustentável, garantir o futuro para as gerações vindouras.

 

Que experiências mais te marcaram?

Uma das experiências mais marcantes foi organizar uma visita a uma escola primária, onde tivemos a oportunidade de realizar várias atividades – teatro, danças, jogos. Foi contagiante ver o sorriso daquelas crianças, tão genuíno e tão contagiante que nos pediram que lá voltássemos e assim foi. Entre bastantes histórias, foi-nos concedida a oportunidade de visitar algumas aldeias, de vivenciar a rotina indiana, como por exemplo, almoçar no chão e sem talheres… A comida era ótima!

Visitar Goa foi igualmente marcante, era como estar em Portugal. Farmácias, restaurantes e lojas com nome português, é emocionante saber que a bandeira portuguesa está espalhada pelo mundo, um indiano que se chamava Mário Fernandes e que não falava português confidenciou-me “Quando os portugueses cá estavam a Índia tinha um rumo, desde que saíram esse rumo perdeu-se”, foram cerca de 500 anos sob o comando de Portugal. No último dia, fomos convidados a participar num filme indiano, mais propriamente um casamento na praia, que deverá estrear em breve!

 

Quão transformador foi o voluntariado para a tua vida? De que forma o voluntariado te moldou enquanto ser humano?

O voluntariado mostrou-me o quão diferentes ainda conseguimos ser, onde apesar da globalização e de todos os desenvolvimentos tecnológicos, a nossa natureza não deixa de nos surpreender. Na Índia não há uma perspetiva de longo prazo porque a luta pelos bens básicos é diária e isso deixa marcas, faz-nos dar valor à simplicidade das coisas, ao que temos, e faz-nos perceber que a nossa vida pode ser tão simples, mas nós tendemos a dificultá-la, ao invés de desfrutarmos.

 

Que mensagem queres deixar a futuros voluntários?

A principal mensagem é não ter receio e arriscar. Vivemos num mundo global, a um clique estamos perto de tudo e de todos. Por vezes colocamos demasiados “Se’s” e deixamos a zona de conforto tomar conta de nós. Como em qualquer organização, a mudança faz parte da nossa génese e com 22 anos, a decisão mais fácil teria sido ficar em Portugal e ter um verão dito “normal”, mas se não aproveitarmos agora para ampliar horizontes, quando o vamos fazer?!

 

Pretendes repetir esta experiência? Tens algum outro projeto em vista?

Quanto mais se viaja, mais se quer viajar. Um dos meus sonhos é “largar tudo” e comprar um bilhete só de ida para o Brasil. Fascina-me a alegria que os rodeia ou, por outro lado, um país “super” desenvolvido, para contrastar com a realidade vivida na Índia. A vertente dos Recursos Humanos e da Mudança faz-me pensar em todos estes pormenores e em toda a influência que a cultura tem sobre nós.

Ainda assim, quanto mais viajo, mais valor dou a Portugal e às nossas qualidades. Temos a tendência de subestimarmos as nossas capacidades e esta 2ª experiência além-fronteiras fez-me chegar à conclusão que somos feitos de coragem e que pertencemos à “raça dos navegadores portugueses”, tal como dizia Fernando Pessoa.